terça-feira, 5 de agosto de 2008

PORQUE MEU FILHO, POR QUÊ?

Edivânia ia todo domingo visitar filho na prisão como de costume. Mas dessa vez iria ser diferente. Passou pela revista, tinha levado bolo, pães e outras coisas. Entrou no pátio da prisão e foi procurar por ele.
- Benção, mãe. – Disse Marcão ao ver a mãe e ao abraçá-la caiu no choro.
- Pare com isso meu filho. Não vê que isso não tem sentido. – disse ela seca.
- Como assim mãe? Não tem sentido minha vida. – ele se levanta. – Ai que saudade da senhora, da sua comida...
- De um lar, né meu filho? – ela o interrompe.
- Também mãe. – ela não mudava o olhar de pedra dela. – Vamos sentar e conversar melhor vamos? – ele a leva pra um lugar um pouco mais isolado. Ela se sente um pouco contra vontade. – Me conte como anda minha irmã, Fátima?
- Ela está bem. – diz olhando pros lados.
- E tio Carlos? Como anda com a oficina? – ele tenta de todo jeito deixar a mãe nem que seja um pouco mais confortável.
- Ta bem também. – ela o olha como se fosse dizer o que tinha que dizer, porém aos poucos sempre ia perdendo a coragem.
- E porque ninguém veio me visitar ainda? Sabem que presídio eu to? Onde estou? Sabem mãe? – Ele a pega pela mão. Ela sem jeito se desvencilha e se levanta. – Que foi? Aconteceu alguma coisa? A senhora está tão estranha desde que chegou. – se levanta também.
- E que... – Cria coragem. – Essa é a... – ela o abraça como não o tivesse visto há anos e se emocionam.
- Mãe, oh mãe. Que saudade da senhora. Como a senhora me faz falta, sua força e coragem. Me ajuda a enfrentar o mundo daqui mãe? Me ajuda? – ele parecendo uma criança pede ajoelhado.
- Essa é a ultima vez que venho aqui, Marcos. – com voz firme ela despeja a fatídica frase.
- A senhora me chamou pelo nome? Como assim a ultima vez mãe? – se levanta se a pega pelos ombros, ao mesmo tempo apertando e suplicando ajuda, sem entender nada. Ela se banha em lágrimas.
- Isso mesmo meu filho... – ela se solta. Vira de costas pra ele por não poder dizer isso de frente. – É a ultima vez que venho aqui te visitar. De agora em diante nem família, nem eu vamos vir te ver. – Ela se vira e vê lágrimas caem dos olhos de seu filho. Ela sente vontade de abraçá-lo, porém se segura.
- Tem algum motivo pra isso? – Marcão desolado.
- Vou me mudar pra Paraíba, minha terra, e sua irmã vai comigo. Seu tio nunca quis vim aqui...
- Sempre me chamou de vagabundo pelas costas que eu sei. Mas ele sabe muito bem que... – começa a perder o fôlego.
- Sabe que você se tornou um bandido. Nunca te ensinei isso meu filho.
- Eu sei.
- ENTÃO PORQUE MEU FILHO, POR QUÊ? – grita ela no desespero. Estava pra perguntar isso a muito tempo.
- Porque ele mereceu. – rosna de ódio.
- Ele mereceu e ocê ta ai, trancafiado nessa prisão imunda. Eu te escrevo, não se preocupe – ela da um passo em direção a saída.
- Boa viagem mãe. – ele diz antes dela dar mais um passo.
- Obrigada. – ela se vira e responde. E tenta ser forte, porém se vira novamente e ele com a cara coberta pelas mãos e ajoelhado no chão, levanta o rosto ao vê-la se virar.
- Nunca se esqueça meu filho. Nunca mesmo, que a única pessoa que te ama sou eu. E que hoje, deixo contigo meu coração.
E ela sai aos prantos em direção a Paraíba.

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