Elizabeth, conhecida pela família como Liz, retirou o véu preto do rosto e foi de encontro ao piano. Andréa adorava aquele piano de calda, que ficava no centro da sala.
- Ela amava esse piano... –Disse Liz após uma lágrima ter caído de seus olhos.
- Vai ficar tudo bem... – Diz Antônia, irmã de Liz e que a acompanhou até em casa após o enterro.
- Não vai ficar não. Ela não vai voltar.
- Tudo bem, estou aqui. – Antônia volta com um copo de água da cozinha.
- Eu sei que está aqui. Mas e ela? Está por aí... Não acredito que fez isso comigo.
- O que está querendo dizer com tudo isso? – Liz toca umas teclas do piano, melódicas e triste.
- Que estou só, completamente só. – Debruça-se sobre o piano e o acaricia. Ela está toda de preto, roupas e maquiagem. – Queria poder voltar no tempo. Ela era tão alegre. Sofri tanto para ter a vida que eu tinha.
- Sim, era. Mas aonde quer chegar com isso tudo? Minha irmã, não fique desse jeito. As coisas são difíceis mesmo. Mas tudo dá certo.
- Não vai. – Liz se levanta do piano violentamente, deixando a tampa do instrumento debater-se ocasionando um barulho forte e impactante. Ela fica petrificada, com olhos marejados de preto e respiração ofegante. – Ela amava esse piano... Era a vida dela. Que morra junto.
Bem que Antônia quis segura-la, mas Liz foi para o quarto, com olhos sem vida e sorriso inexistente. A vida para ela acabara-se.